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  • Foto do escritorMarcos Oliveira

O preferido, por Ulisses Vasconcellos



O que faz um bar ser o preferido de uma turma? A música que toca? Um tesouro de tira-gosto escondido no cardápio, um caldo de feijão, o torresmo, talvez? Quem sabe, a localização? A galera que está sempre por ali. Seria o horário estendido ou a TV grande, boa para o futebol


Não podemos esquecer a simpatia do garçom, a cerveja gelada ou apenas barata - já tá bom. Em maior ou menor grau, você se identificou com cada item proposto e se lembrou de mais alguns, eu sei. A verdade é que é difícil, quase impossível, dizer por que, entre infinitos, aquele é o melhor boteco.


Você pode ter o seu favorito. Onde se ouça blues ou sirva uma double IPA estupidamente amarga. O melhor gin que você já experimentou. A casa do pagodinho, onde a Heineken sai trincando, o espetinho é caprichado e tem um quibe maravilha, sei lá. Aquela cachaça honesta, o flerte, a sinuca, o karaokê, a eclética jukebox - você sabe onde encontrar.


Não necessariamente o seu distinto estabelecimento cinco estrelas é o eleito pela turma. Afinal, os rankings são diferentes e o ambiente onde o grupo se senta, pede uma gelada, chamando o atendente pelo nome, é pra lá de especial.


Olivêra tomando cerveja em um bar brasileiro, com a camisa do Bahia e óculos escuros
Desce mais uma, bota na conta, pegue a viola e senta aqui

A gente tinha o nosso. Íamos sempre no mesmo dia da semana, o que já rende um ponto extra no quesito tradição. A dose bem servida de aguardente da roça, 50 centavos custava e nem sei como converter a cifra para valores atuais. Pareciam tempos mais prósperos aqueles, daquele Brasil de 15 anos atrás. O som era o melhor, afinal boa parte era por nossa conta, embalados por um violão emprestado do bar, sempre com a promessa de não incomodar os vizinhos. Se cumpríamos? Só quem viu pode falar.


Um dia desses, em outra mesa, a uns bons quilômetros de lá, ele voltou a ser assunto: o nosso bar. Como a gente o descobriu? Lembra daquela vez? Bons tempos. Assim vai, coração em êxtase e a pergunta vem: como será que ele está hoje? Tem um tempo que ninguém aparece por lá. Vamos buscar uma foto atual, na internet, e matar a saudade.


Coloca o endereço mais ou menos, avança e recua zoom. Acho que é por aqui, mas não está aparecendo. Estranho. Vamos achar. Gira um para cá. Ué, será que...? É o que parece. Virou um mercadinho. Acho que não, é portão fechado ao lado, a foto foi pela manhã. Deve ser isso. É isso. Será? Não está com cara. Por via das dúvidas, guarda o print no celular.


Silêncio. Suspiros. Se for mesmo, cumpriu bem sua missão. Mas tomara que não. Merecia mais. Um pecado acabar sem a saideira.


Um brinde espontâneo. Máximo respeito.


Texto de Ulisses Vasconcellos, a quem dedico um brinde.




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